domingo, 27 de setembro de 2009

O MITO DA "GEOGRAFIA" DA ADORAÇÃO

Uma lição de fundamental importância que Jesus nos dá, no diálogo com a mulher samaritana (Cf. Jo: 4) tem relação com a verdadeira adoração. É interessante notar que a introdução do tema sobre a mulher e seus relacionamentos afetivos fê-la remetê-lo diretamente à questão religiosa. Isto nos indica que a mulher sabia das implicações religiosas de sua conduta e das implicações espirituais dessas mesmas relações no que concerne ao seu próprio relacionamento com Deus.

Muitos só procuram relacionar-se de algum modo com Deus, ainda que não O conheça, quando os caminhos do coração lhes fazem sofrer. E pensar em relacionamento com Deus é, para a maioria das pessoas, pensar em religião e tudo que ela inclui: templos, rituais, cerimônias, assiduidades, sacrifícios financeiros(sic!), frases-feitas, fórmulas prontas; mas aquele encontro com Jesus lhe foi, também neste particular, surpreendente.


Para a samaritana, a verdadeira adoração tinha a ver com o “lugar” onde ela deveria ocorrer. Entretanto, Jesus, ao respondê-la, diz a que veio:

Primeiro confunde: Ao relativizar a questão do lugar, transformando-a numa questão de tempo: “... a hora vem, quando nem neste monte, nem em Jerusalém ...” (v.21).*

Depois, revela: Mas vem a hora, e já chegou, ...” (v. 23).

Ora, o tempo da religião e de suas contendas havia passado. Com a revelação de Si mesmo, Jesus inaugura o tempo da Graça, tornando o aqui ou ali, uma questão de somenos importância para o verdadeiro adorador. Assim, até o “vós adorais o que não conheceis”, endereçado aos samaritanos é completamente aplicável também aos de Jerusalém (JO 1:11; 12: 37-43). Isto porque a verdadeira adoração implica o verdadeiro conhecimento de Deus.

Qual, então, o verdadeiro conhecimento de Deus?
Será aquele expresso por questões acerca do que se pode julgar segundo a vista dos olhos e segundo o ouvir dos ouvidos?Será que Jesus estava pensando em algo como “forma” ou “liturgia” ao tratar dessa questão?

Será que Jesus estava sugerindo que havia um conhecimento “teo –lógico” exato, ortodoxo, a ser adquirido pela mulher? Ou, pelo contrário, pensava em revelar a importância do “conteúdo” do coração? (Cf.Sl. 51:16-17).

Para Jesus, o que é mais importante, o “vinho novo” do Seu Evangelho ou o “odre velho” do judaísmo, e das religiões de um modo geral?

A experiência de fé do apóstolo e evangelista João com Jesus Cristo nos permite concordar que, sem dúvida, o amor é o verdadeiro conhecimento de Deus, porque Deus age amando: “Aquele que não ama não conhece a Deus, pois Deus é amor.” (1JO 4: 8).
O mesmo amor com que Jesus havia libertado a samaritana das falsas adorações, das falsas questões, dos preconceitos e dos desprezos, era o amor de que ela precisava conhecer para adorar a Deus em qualquer lugar que se encontrasse, inclusive, longe e fora dos montes e dos templos de Samaria ou de Jerusalém.

Adir Freitas.



Nota
* Está desautorizada, portanto, qualquer tentativa de legitimação de guerras e invasões de “solos sagrados” ou “terras santas”, por parte da “Igreja” e do Estado.

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